quarta-feira






Mau Espírito: Como tu eras diferente, Margarida, quando cheia de inocência subias a este altar, murmurando orações do teu livrinho usado, o coração metade ocupado pelos jogos da tua infância e metade pelo amor de Deus!






Margarida, onde tens a tua cabeça?







Quantos pecados no teu coração!






Rezas pela alma de tua mãe, a quem fizeste descer à sepultura por meio de tão longos desgostos?





De quem é o sangue espalhado no limiar da tua porta?





E no teu seio não se agita, para seu tormento e para o teu, alguma coisa cuja chegada será um funesto presságio?






Margarida: Ai de mim! Pudesse eu escapar aos pensamentos que me acusam!







Coro

Dies irae, dies illa
Solvet saeclum in favilla

(O orgão toca)






Mau Espírito: A cólera celeste esmaga-te! Soa a trompeta, os sepulcros tremem, e o teu coração, reanimado da morte para as chamas eternas, estremece ainda!






Margarida: Se eu estivesse longe daqui! Parece que este orgão me sufoca, estes cânticos dilaceram profundamente o meu coração.






Coro

Judex ergo cum sedebit
Quidquid latet apparebit
Nil inultum remanebite.





Margarida: Em que angústia estou! Estas colunas apertam-me, esta abóbada esmaga-me. Ar!






Mau Espírito: Esconde-te! O crime e a vergonha não podem ocultar-se! Ar! Luz!... Desgraça sobre ti!






Coro

Quid sum miser tunc dicturus
Quem patronum rogaturus?
Cum vix justus sit securus.







Mau Espírito: Os eleitos desviam de ti a sua face; os justos receariam estender-te a mão. Desgraça!






Coro

Quid sum miser tunc dicturus?







Margarida: Vizinha, o seu frasco de sais! (Cai, desfalecida.)





(texto: Fausto, Johann Wolfgang Goethe
imagens: variações de imagem original de mute_nOface in deviantart.com)

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