
Um homem salta de uma lata de salsichas e esconde-se atrás das latas de atum bom petisco.
Um homem escorrega pelos fios do esparguete polegar e mergulha no saco de cotovelinhos auchan.
Uma mulher guarda os seus caracóis negros numa caixa de bolachas belga.
A mesma mulher que dá uma dentada no celofane congelado de bifes de salmão e rega as sobrancelhas com 10 minis sagres que quebra ao fundo do corredor.
Sempre achei que o atum bom petisco não se comparava ao sabor do atum general. Talvez por isso, receie sobre a validade do homem que salta da lata de salsichas.
Há uns dias enganei-me sobre os cotovelinhos que procurava. Trouxe para casa uns maiores do que aquilo que ambicionava e o atum general não teve o efeito desejado.
Lembro-me de um episódio na minha infância com bolachas belga. Na altura ainda não tinham aparecido as belgas com chocolate. Na verdade, chocolate era apreciado no pão, daqueles frascos nutella que nunca percebi se devia pronunciar com “l” ou com “lh”. Ficou com “lha” até hoje. Nutella com “l” parecia patético.
O episódio das belgas não é, para ser honesta, muito relevante, por isso, passo à frente.
Os bifes de salmão vêm sempre numa embalagem para dois, o que para quem vive sozinha pode ser frustrante. Houvesse um gato e teria um manjar. Já existiram gatos. Todos desaparecidos com o tempo. Atropelado, roubado, adoentado, assassinado.
E cães. Alguns. Grandes e pequenos.
As 10 minis que trago pelo preço de oito e que são anunciadas como rapidinhas refrescantes. Perdão. Reparo que este anúncio é da marca concorrente. Não deixam, no entanto de ser demasiado rápidas e pouco refrescantes.
Para o que se pretende.
Tirar o homem escondido atrás da pilha das latas de atum.
Pescar o homem do mar dos cotovelos. (Existem outros mais pequenos, apenas não acertei desta vez).
Aplico-me.
É provável que para o próximo ano já não necessite de ir no último dia às compras e deparar-me com as caixas bloqueadas de pessoas enervadas com as festas resmungando que é natal, não faz mal, e a senhora que segurava as duas dúzias de ovos atrás de mim não tenha que me sossegar explicando-me que me emprestava dinheiro mas que não tinha o suficiente para as duas garrafas de uísque que segurava nas minhas mãos.
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